SOBRE A OBEDIÊNCIA
Conta-se que, a certa altura da história do Convento de Santa Clara de Vila do Conde,Portugal, havia bastante relaxamento na vida religiosa das monjas. Orgulhosas, recusavam os trabalhos, davam-se a falatórios inconvenientes e eram pouco zelosas em acorrer à reza nas horas canónicas.
Havia, entretanto, uma exceção: a irmã Berengária. Humilde, cumpridora, imitava os melhores exemplos das passadas Clarissas, não se furtando às tarefas mais humildes, que executava com alegria e sentido fraterno.
Aconteceu que nesse período, a abadessa faleceu e foi preciso eleger a sucessora. Havia muitas interessadas no cargo, que dava autoridade e visibilidade social. Quem não pensava nisso era sem dúvida a solícita Berengária.
Na hora da eleição, cada uma das eleitoras, para que as amigas não acedessem ao abadessado, votou do modo que menos pudesse prestar – na Berengária – pensando assim protelar a decisão, ao entregar o voto a uma incapaz.
Mas, quando a irmã Berengária verificou que tinha sido eleita segundo todas as regras, decidiu aceitar o cargo. Não o tinha pedido, mas não o recusava.
As demais monjas mofavam e recusavam-se a obedecer-lhe, afirmando que a votação não fora a sério.
Perante da rebeldia manifesta, a nova abadessa foi firme e ousada: ordenou que as suas antecessoras, que ali jaziam sepultadas, viessem prestar-lhe a homenagem de obediência que as freiras vivas recusavam. Eis então que as antigas abadessas se ergueram das sepulturas e ali se mostraram em atitude respeitosa.
O resultado não podia ser outro: as monjas arrependeram-se da sua soberba e acataram a autoridade da nova abadessa.
A Abadessa Berengária é efetivamente uma figura da história, tendo estado à frente do convento de 1384 a 1406. Essa narrativa é de cunho edificante, ao valorizar virtudes indispensáveis à vida em comunidade, como a dedicação ao trabalho, a oração e, sobretudo, a obediência.
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